Mais perigoso do que se imaginava
O bronzeamento artificial é um agente cancerígeno tão poderoso quanto o tabaco ou as armas químicas.
As câmaras de bronzeamento artificial podem estar com os dias contados. Há tempos se suspeitava que a radiação ultravioleta emitida por esses equipamentos tinha potencial cancerígeno. Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elevou o nível de alerta para o bronzeamento artificial, colocando-o entre os agentes cancerígenos mais perigosos, ao lado do tabaco e do gás mostarda, arma química usada na I Guerra Mundial. O parecer da OMS se baseia num estudo feito pela Agência Internacional de Pesquisa do Câncer sobre radiação solar recém-publicado no jornal Lancet Oncology. Pesquisadores de nove países reavaliaram os riscos dos raios solares UVA, UVB e UVC. Sabe-se que não é bom abusar do sol na praia nem na piscina porque os dois últimos estão relacionados a vários tipos de câncer de pele. Os pesquisadores concluíram que os raios UVA, justamente aqueles produzidos pelas lâmpadas bronzeadoras, são tão cancerígenos quanto os outros dois. Os raios UVA eram considerados menos nocivos – estavam relacionados apenas ao envelhecimento precoce e ao surgimento de catarata.
A exposição às lâmpadas solares antes dos 30 anos de idade aumenta em 75% o risco de melanoma
O estudo adverte que, em pessoas com menos de 30 anos, o bronzeamento artificial aumenta em até 75% o risco de incidência de melanoma. "Os raios UVA penetram mais fundo na pele do que o UVB e o UVC e alteram as fibras de sustentação da pele", explica o dermatologista Sérgio Schalka, diretor da Sociedade Brasileira de Dermatologia. "Além disso, é importante lembrar que quem se submete a essas sessões está exposto a uma quantidade de energia muito maior do que quem se bronzeia naturalmente", ele completa. Para se ter uma ideia do que isso significa, dez minutos numa câmara de bronzeamento artificial equivalem, em média, a uma hora de sol sem proteção. O melanoma é o mais perigoso tipo de câncer de pele. Apresenta enorme grau de metástase, ou seja, grande capacidade de se espalhar para outros órgãos do corpo. O fator hereditário influi no desenvolvimento do melanoma. Quem tem pele clara é forte candidato a ter a doença se abusar da exposição ao sol ou ao bronzeamento artificial.
Há muito os médicos condenam o uso das lâmpadas bronzeadoras. "Mesmo antes de a OMS alertar sobre os riscos da radiação UVA, dermatologistas do mundo inteiro já vinham lutando para acabar com o uso indiscriminado das câmaras de bronzeamento pelas clínicas de estética", diz o dermatologista Valcinir Bedin, da Sociedade Brasileira de Medicina Estética. Os donos de clínicas que oferecem bronzeamento artificial – estima-se que existam 5 000 no Brasil – se defendem alegando que ele não provoca mais danos do que a exposição ao sol. Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se manifestou a respeito da pesquisa da OMS e cogita proibir o uso das câmaras de bronzeamento artificial no país.
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